quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Diário de um ex-obreira - Capitulo 26


Algo de ruim estava crescendo dentro de mim, eu já não tinha mais vontade de orar e jejuar, já não via mais motivos para ir com tanta frequência a igreja, não tinha mais animo de evangelizar. Eu não me sentia mais a vontade dentro da igreja e não me encaixava em nenhum grupo, me sentia um peixinho fora d'agua, e não conseguia entender como e porque eu tinha mudado tanto. Comecei a pensar  então que talvez o problema não fosse eu e sim a iurd daquele bairro, e resolvi passar a frequentar outra iurd, e escolhi a iurd que o Flávio frequentava, assim eu não me sentiria tão sozinha. Ele sempre me buscava e me levava em casa todas as terças, quartas e domingos. Começamos a namorar, mas dessa vez não colocaríamos a nossa salvação em risco, ele não entrava na minha casa se eu tivesse sozinha, me deixava no portão se fosse o caso, estávamos vigiantes, e continuávamos firme no objetivo de voltar pra obra.

Aparentemente as coisas estavam indo bem, mas eu não me sentia bem, é como se eu carregasse um peso o tempo todo. Não tinha mais amigos, todos os quem um dia me chamaram de amiga, irmão, hoje mau olhavam na minha cara. Eu só tinha o Flávio, só podia contar com ele, então me apeguei com todas as minhas forças a ele.  Mas todo aquele peso me deixava tensa, estressada, o que estava causando muitas brigas entre mim e ele. Eu me tornei extremamente ciumenta, vigiava ele nas redes sociais, não gostava que ele saísse com os amigos, e nem que ele fosse na igreja sem mim. Talvez pela dependência que eu criei dele, por não ter mais ninguém, eu tinha um medo incontrolável de perde-lo.  Brigava com ele por conta do trabalho, não aceitava o fato dele conviver diariamente com a Gabi. Qualquer coisa era motivo para virar briga, nem eu estava me aguentando mais. Estava me tornando aquilo que sempre rejeitei, uma amargurada!

O Flávio sabia tudo o que eu tinha passado, então tentava ser compreensivo, mas as vezes perdia a paciência e gritava comigo, e ficava dias sem falar comigo. Ele dizia pra mim e pra si mesmo que era só uma fase, que logo a verdadeira Drika estaria de volta, mas eu sentia que não era bem assim, eu tinha mudado muito e dificilmente voltaria a ser aquela garota meiga, que se dava bem com todo mundo e tinha o coração puro.

CONTINUA...






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